Os anjos
fotografia: helena
Por Helena Arcoverde
na solidão da morte
os anjos emergem
imunes `as luas e sóis
sob o sereno e lodo da eternidade
OS ANJOS CHORAM?
Por Helena Arcoverde
Os anjos não choram. Nós choramos por eles. Mas, quando não somos mais capazes de sentir, eles derramam as gotas da chuva na solidão dos jardins e cemitérios. Eles representam o arrependimento, a reflexão tardia, a tristeza pela rejeição das portas fechadas. Sem mais umbrais, eles se cobrem de lodo para que os homens não vejam suas dores. Decerto ainda pensam em nós e temem que pensemos ser eternos. Mirando essas estátuas, fiquei pensando qual delas estaria penalizada com o meu país. Mas elas não responderam. Estão horrorizadas com o casuísmo e injustiça que assolou meu país. E eu chorei pelos anjos. Retornei meu olhar a eles. E estes – entre arbustos e galhos secos – pareciam sem respostas. E eu, para quebrar o silêncio, lhes disse que eu desde sempre soube que tudo por aqui é efêmero e que os bens só existem através de meu olhar de admiração. Se não há quem os admire, eles não existem. E que, mais tarde, tudo findaria. Então, pedi a eles que mostrassem aos homens de meu país que – quando se forem- não levarão nada que aqui acumularam. Mas o ranço da traição os acompanhará para sempre. E, então, será tarde demais para os errantes chorarem pelos anjos.
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