O vaso
Por Helena Arcoverde
Bailarinas em relevo se imiscuíam nas laterais do vaso. Veios verticais davam-
lhe um ar caraquento. Imaginei que a textura dele seria realçada depois de
limpo. Mirei-o detidamente. Mas o banho de esponja não retirara a sujeira.
Coloquei-o de molho. Parecia apinhado de carunchos. A robustez do vidro
resistia aos esfregões. Desanimada, desisti. Depois de enxugá-lo, coloquei-o
sobre um aparador. Ora iluminava-o, ora deixava-o na penumbra. E os
pontinhos não arredavam. Fervilhavam desnudados pela claridade.
Insinuavam-se entre a parede do vidro fosco como a me convencer ser parte
de. Eu olhava – cismadora – o objeto. Arrodeava-o sem movê-lo do lugar. E ele
– borrifado – reinava, insistente. Logo alguém sugeriu: pinta de verde, vai ficar
lindo. Vieram mais dias e as dançarinas eternizavam um único e desolador
movimento em meio ao respingar igualmente aprisionado.
Por Helena Arcoverde
Quando o povo opta pelo escárnio já não considera os mandatários como seus representantes.
Sem reservas
Por Helena Arcoverde
Fechara os olhos. Imiscuía-se em uma zona sem forma que se expandia e a ela se unia sem reservas. Obrigara-se a abrir os olhos, mas nao o fez. Encontrava-se ante o não nomeado. Nao medível. O nada a fazia inteira. Alongava-a. Negava ruídos e formas. Era imperioso o retorno. Descerrou os olhos. Jocosos, os objetos a esperavam.
Sem volta
Por Helena Arcoverde
O irreversível esbarrou em mim
desalegrou meu dia já morno
acelerou meu eu inteiro
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