Helena Arcoverde

carta 1

Posted in carta by helenarcoverde on 17/05/2017

 

Eu respondi uma indagação de um amigo, no facebook, sobre o tema poesia e optei por reproduzi-la aqui neste espaço.

Amigo,[…] (sobre a poesia) ela pode até ser contraditória, intrigante, entre dezenas de outros traços, mas é um gênero que diz muito do autor, do seu tempo, daquilo que um expressa de forma tão singular e – ao mesmo tempo -representativa de todo um grupo, um povo , região, história de vida. Eu tenho um amigo e querido professor que se aborrece com a grande quantidade de pessoas – que, segundo diz- fazem poemas sem qualidade e eu sempre digo a ele que bom que as pessoas produzem, falam sobre si, de seus sentimentos, de suas tristezas, enfim. A poesia é contraditória exatamente por ser expressiva daquilo que somos, por revelar o que trazemos e que- nem sempre , é plausível. Nosso âmago, nossas manifestações às vezes até tardias. Quando eu era professora observava que os alunos se transformavam quando trabalhavam e produziam algum poema. Esses textos até poderiam não ser uma obra de arte, mas eram únicos, eram preciosos pq eram a identidade deles, tão diferente e tão igual ao outro. Quase todos amam a poesia, mas muitos editores a desprezam, mas isso é outra história. Sendo assim, é um gênero que revela essas imprecisões que -sem ele, talvez ficassem aprisionadas mais tempo. Eu me afastei muito tempo da poesia mas ela me arrastou para si, me fez amá-la , mesmo que antes eu a tenha deixado de lado não por desprezá-la mas por achá-la arredia. Fazer poemas é dar uma trégua, é marcar nossa trajetória nesse mundo tão ávido por. Eu não penso em dinheiro quando faço poemas, eu penso que eles são mais uma forma de eu me revelar ao outro, de dizer: veja, eu estou aqui, perdi a beleza, sucumbi ao tempo, mas quero falar com você, contar o que sinto, quais as esperanças que trago, meus embaraços, minha ânsia em amar, em  falar o que sinto ao envelhecer, meus amanheceres com solidão consentida, meu olhar ao derredor. Veja o que você tem de mim, leia meu poema. Abr, amigo.