Crédito: Helena Arcoverde
o corpo arrancado
rasga os veios do amor
e eles andarão a sós
pelos escombros da noite
sem alertas
reaprenderão a caminhar
negociarão com o dia
e conhecerão outros amores
cobrirão a dor da perda
ao fim ela reacenderá
destrutiva e amena
como toda dor
O casamento
Crédito : Helena Arcoverde
Posted by helenarcoverde on 04/08/2013
[..] O hotelzinho era próximo, iria caminhando mesmo. Dera as costas para a casa e não se voltou nem uma vez. Sempre apreciara contrastes. E desta feita conseguira. Os vultos, agora mais distantes – eram pequenos. Os tons azulados eram quase violeta. Os sapatos marrons não mais se distinguiam e nem mais as pernas quase cobertas pelo linho violeta. A tarde se fora e os sinos da igreja bradavam, indiferentes àquele desfecho para as meninas cada vez mais singular. Não cabiam naquele episódio. Contemplavam o impacto. A roupa acinzentada se aproximava da calçada alisada com cuidado. As meninas se aproximaram do meio-fio. Ela se distanciava em diagonal. Não houve despedida. Ela dobrara a esquina, não poderiam mais vê-la. Não se voltara nem na dobra. Mas elas poderiam sentir o amargor da hóspede. […]
Crédito: Helena Arcoverde
Por Helena Arcoverde
[…] Se o que caracteriza o poema é sua necessária dependência das palavras, obrigando-as a ir além de si mesmas (PAZ, 2012, 191), o que caracteriza Ladri di biciclette é sua subserviência a um espaço de emergência e instantaneidade, em que os vieses da realidade se repetem continuamente história afora.
As marcas do espaço, no entanto, não impedem que as cenas se desenrolem como poemas e, como afirma Paz, “o poema não teria sentido – nem sequer existência – sem a história, sem a comunidade que o alimenta e à qual alimenta” (PAZ, 2012, 191).
E – desde as primeiras cenas – esses poemas denotam o desmoronamento da ilusão. A mudança é negada. A tragédia social é anunciada e a sobrevivência é o elo sem nenhuma outra unidade. O ar é de monotonia e morosidade. O sobreviver se impõe aos sonhos, soterra o encantamento. […]
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