Helena Arcoverde

Joca e Helena

Posted in Biografia by helenarcoverde on 02/11/2015

Por Helena Arcoverde

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Joca Vieira foi um farmacêutico e professor de Geografia nascido em Patos na Paraíba, no final do seculo XIX. Os pais resolveram suprimir Arcoverde de seu nome porque havia um tio homônimo, tendo sido registrado, então, como  João Rodrigues Vieira – mais tarde apenas professor Joca- como gostava de ser chamado.  Depois de formar-se em Farmácia, no Recife, viajou, com seu irmão Miguel Arcoverde para Amarante, no Piaui, onde já residia um outro irmão, Eudocio, juiz de Direito. Lá montou uma farmácia e casou-se com Helena Sobral, uma descendente de portugueses – a moça da casa de azulejos, filha de um negociante de produtos de decoração importados – com quem teve cinco filhos. Por insistência de Helena, mudaram-se  para a capital, Teresina, tendo ele iniciado uma nova profissão – a docência, deixando para trás a cidade que amaria ate o final da vida – Amarante.

Estudioso, possuía uma cultura vasta e refinada.  Escrevia contos os quais nunca foram publicados. Por terem sido escritos com lápis grafite, processo com pouca duração,  suas escrituras não puderam ser publicadas postumamente. Interessava-se por política o que o motivava a sair quase todas as manhas para saber das últimas notícias acerca da política local.

Com uma visão de mundo vasta, ele acreditava e estudava a existência de vidas fora do Planeta Terra e era terminantemente contrario aos maus-tratos a quaisquer tipo de animais, defendendo o direito que todos eles possuem de viver,  incluindo os insetos.

Joca era calmo e pacífico. Helena era intensa e extrovertida, juntos eram solidários e capazes de lutarem pelo bem-estar de pessoas que jamais haviam visto antes. Apoiaram pessoas, projetos solidários, lutaram juntos por sua sobrevivência e pela dos outros. Apesar de possuírem características opostas, encontraram no amor ao próximo o que solidificava a cada dia o afeto que sentiam um pelo outro.

Ambos morreram em Teresina. Ela faleceu em 1980, seis anos depois do marido, não de amor, como os poetas do Mal do Século,  mas de saudade. Sentia falta de vê-lo no terraço todas as manhãs e tardes, lendo e escrevendo. Naquele dia – seis de agosto-  seria a derradeira leitura – Israel em abril de Érico Veríssimo. Findara a trajetória do professor Joca – um homem  simples em seus anseios cotidianos, complexo em suas ideias e pioneirismo. Um homem de família, para quem a família ia além da esposa e dos que dera vida.

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Quero ser Joca

Posted in Crônica by helenarcoverde on 06/04/2011

Ele vai ser um avião, disse-me ela, com ar vencedor. Nada lhe respondi, pois fui inundada por um sentimento de desvanecimento, de inutilidade mesmo. Então ela criaria mais um, apenas isso. Um homem bom não estava em seus planos. Puxaria tapetes, desconheceria amigos ou a ela própria quando estivesse no que normalmente se considera topo, se aproveitaria das relações partidárias para enriquecer a si e aos seus, viraria as costas para os que um dia lhe apoiaram, seria arrogante com os que estivessem em uma posição de desprestígio. Meu filho mais tarde resumiria todo esse perfil, figurativamente. Conhecendo-o não imaginei na sentença nenhum cunho religioso: Mamãe, ele é tão bonitinho, mas o bichinho não tem “alma”. Todas às vezes que pensava nesse episódio, me remetia de imediato a meus avós. Fui criada por eles – Joca e Helena. Se eles tinham alma eu não sei, mas o outro era parte da vida deles. Importavam-se com os que não conheciam, queriam ajudar, dialogar, ser éticos. Mas que importa a ética, eu quero é me dar bem. Assim pensam alguns, assim planejam alguns as suas próprias estratégias de vida. “Assim caminha a humanidade”. Ninguém fez a biografia do Professor Joca, que era também Rodrigues, Vieira e Arcoverde. Era um estudioso que deixou tudo que o dinheiro e o berço poderiam lhe proporcionar para ser um professor. Pulou dos fármacos para a geografia. Que péssima escolha, disseram alguns. Mas ele trabalhava em prol dos menos favorecidos, um trabalho silencioso e contínuo. As obras sobre seus contemporâneos desfilam e sua foto foi destroçada no porão da escola em que foi diretor. Era um intelectual sem publicações, apesar de ter escrito muitas páginas que o tempo e a falta de uma máquina de escrever apagaram. Fundou algumas escolas direcionadas para os menos afortunados. Mas quem é Joca, afinal? Joca não é ninguém, apenas um homem bom. Mede-se geralmente um vencedor pelos bens, pelos cargos, pelo que ele deixou para trás. Quem perderia tempo em trocar meia dúzias de palavras com um desconhecido, quem perderia uma festa porque seu melhor amigo está muito triste, quem deixaria de concorrer a um cargo porque aquele posto era o maior sonho do colega ao lado, quem deixaria de ser empresário para se tornar um professor? Joca faria tudo isso, mas hoje ele não simboliza nenhum valor. Eu segui a lição de casa? Nem tanto. Mas não criei nenhum avião. Não puxei tapetes. Não invadi vidas sem ser convidada. Se tenho alma, não sei, mas pretendo tê-la, ainda. Como apregoa o dito, nunca é tarde. Talvez não escreva tão bem quanto ele, não me sinta inteiramente parte do cosmo, como ele o fazia, não tenha paciência, como ele a tinha, não acredite tanto em vidas em outros planetas. Talvez eu mate insetos ao avistá-los, ele não. Não preciso de biografia, nem Joca. Somos apenas rastros do homem comum, gostamos do anonimato, em que pese o gosto pelos registros escritos. Mas uma coisa é certa: quero ser Joca. É que quero ter alma.

Dados biográficos

Posted in Biografia by helenarcoverde on 22/07/2012

Helena Sobral Arcoverde Silva nasceu em Teresina, estado do Piauí e em 1990 mudou-se para Curitiba- Paraná, tendo atuado nesse Estado como professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico na Universidade Federal do Paraná, cargo que anteriormente já havia exercido na Escola Técnica Federal do Piauí, hoje Centro Federal de Educação Tecnológica do Piauí.  Exerceu também as atividades de jornalista, ainda na cidade de Teresina – Jornal da Manhã. Possui Licenciatura em Letras, Bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo e mestrado em Teoria Literária. Foi uma das ganhadoras do Prêmio Helena Kolody, em 1990, tendo participado de antologia de poetas do Paraná, 1991, denominada “Os poetas: antologia de poesias contemporâneas do paraná”. Participou, ainda, da coletânea Histórias de Trabalho, 2012,  editada pela Prefeitura de Porto Alegre, com os contos A bordadeira e A quebradora de côco. Filha de Verbena Angélica – que exercia as funções de bibliotecária e Geraldo. Possui três filhos: Pedro, designer gráfico, Albert, fotógrafo  – ambos da união com o cartunista Albert Nunes além de João, designer digital – da união com seu ex-marido Raul, contador. Atualmente dedica-se à produção de contos, crônicas e poesias, tendo se afastado das atividades acadêmicas. Neta de Gentil Alves ( e Adélia)– pecuarista da região em que nasceu e de Joca Vieira (e Helena Sobral)– professor e farmacêutico, todos já falecidos, atribui a este último sua vivência como escritora uma vez que Joca, por quem foi criada,  também era contista embora não tenha deixado obra publicada. Contato: helenarcv@yahoo.com.br