orvalho
crédito imagem Albert Nane
crédito texto Helena Arcoverde
Nem sempre me soara afável morar ali. Parecia ter chuva demais descendo e mais ainda escorrendo sobre a terra. Com os dias, comecei a apreciar o que me cercava. As flores descambadas nas cercanias das águas que corriam intermitentes sobre os pedregulhos. As borboletas em fuga. Os códigos das ruas. O mercado sempre vazio. A mochila de compras dificultando o registro do que havia no caminho. A chuva apressada para se juntar ao riachinho. Os casarões e casebres. O odioso binóculo da vizinha. Agora, teria que deixar todas essas miudezas. Não sem antes ter saudade dos respingos nas flores que beiravam os córregos, da camada pouco espessa de asfalto, do mercado sempre disponível, das pipas que peneiravam o ar até o anoitecer. Havia quem passasse a vida toda em uma só casa. De lá sair, sem consentimento. E eu me desfaria mais uma vez dos meus cantos. De onde estiver sentirei falta das flores sem nome, companheiras silenciosas sem as quais vai ser difícil acordar feliz.
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